Coluna de: Profa. Edmeire C. Pereira/UFPR Título da Coluna: “Refletindo sobre temas gerenciais à moda de fábulas”
A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS
Autor: desconhecido…
Recebi este texto, também, quando fiz um curso livre na PROGEPE/UFPR sobre Gestão Estratégica, ministrado pelo querido Prof. de Administração de Empresas do DAGA/UFPR – Me. Osmar Rocha (aposentado), em 2012.
Segundo o Prof. Osmar Rocha (2012):
“O texto original deste trabalho, circulou entre os alunos do Curso de Pós-Graduação, da Universidade de Piracicaba/SP, em 1981. A sutileza com que o autor satitiza um dos problemas de nossos tempos, fez com que imediatamente o texto chamasse a atenção de alunos e professores, convertendo-se em tema de conversas e debates”.
Aos leitores, vamos à Fábula dos Porcos Assados:
“Uma das possíveis variações de uma velha história sobre a origem do porco assado é a seguinte…
Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque… até que, descobriram um novo método. Mas, o que quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para implantar um novo.
Fazia tempo que as coisas não iam lá muito bem:
Às vezes, os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. O processo preocupava muito a todos, porque o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes e milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também milhões os que se ocupavam na tarefa de assá-los. Portanto, o SISTEMA simplesmente não podia falhar.
Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, tanto mais parecia falhar e um tanto maiores eram as perdas causadas. Em razão das inúmeras deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidadede reformar profundamente o SISTEMA.
Congressos, Seminários, Conferências passaram a ser realizadas anualmente para buscar uma solução. Mas parece que não acertavam o melhoramento do mecanismo.
Assim, no ano seguinte, repetiam-se os congressos, seminários e conferências. As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar ou ainda às árvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade da chuva…
As causas eram, como se vê, difíceis de determinar – na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: maquinário diversificado; indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo – incendiadores que eram também especializados (incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc, incendiador de verão, de inverno, etc). Havia especialistas também em ventos – os anemotécnicos. Havia um Diretor Geral de Assamento e Alimentação Assada, um Diretor de Técnicas Igneas (com seu Conselho Geral de Assessores), um Administrador Geral de Reflorestamento, uma Comissão Nacional de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias (ISCUTA) e o Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas.
Havia sido projetada e encontrava-se em plena atividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação, utilizando-se regiões de baixa umidade e onde os ventos não soprariam mais que três horas seguidas.
Eram milhares de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, testando o fogo antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno. Foram formados professores especializados na construção dessas instalações. Pesquisadores trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para os porcos, fundações apoiavam os pesquisadores que trabalhavam para as universidades, que preparavam professores especializados na construção de instalações para porcos, etc.
As soluções, que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangulamente, o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse 47 graus, posicionar ventiladores gigantes em direção oposta à do vento, de forma a direcionar o fogo, etc. Não é preciso dizer que poucos especialistas estavam de acordo entre si, e, que cada um, embasava suas ideias em dados e pesquisas específicos.
Um dia, um incendiador categoria AB/SODM-VCH (ou seja, um incendiador do bosque especializado em sudoeste diurno, matutino, com bacharelado em verão chuvoso), chamado João Bom-Senso, resolveu dizer que o problema era muito fácil de ser resolvido – bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o então sobre uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor – e não as chamas – assasse a carne. Tendo sido informado sobre as ideias do funcionário, o Diretor Geral de Assamento mandou chamá-lo ao seu gabinete, e depois de ouvi-lo pacientemente, disse-lhe:
_ Tudo o que o Senhor disse está muito bem, mas não funciona na prática. O que o Senhor faria, por exemplo, com todo o pessoal técnico, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? Onde seria empregado todo o conhecimento dos incendiadores de diversas especialidades?
_ Não sei, disse João.
_ E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os desenhistas de instalações para porcos, com suas máquinas purificadoras automáticas de ar?
_ Não sei.
_ E os anemotécnicos que levaram anos especializando-se no exterior, e cuja formação custou tanto dinheiro aos pais? Vou mandá-los matar e limpar porquinhos? E os conferencistas estudiosos, que, ano após ano, tem trabalho no Programa de Reforma e Melhoramentos? Que faço com eles, se a sua solução resolve tudo? Hein?
_ Não sei, repetiu João, encabulado.
_ O Senhor percebe agora que a sua ideia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos?O Senhor não vê, que se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo atrás? O Senhor com certeza compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas, sem chamas! O que o Senhor espera que eu faça com os quilômetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos nem tem folhas para dar sombra? Vamos, diga-me.
_ Não sei, não Senhor.
_ Diga-me, nossos três engenheiros em Porcoprirotecnica, o Senhor não considera que sejam personalidades científicas do mais extraordinário valor?
_ Sim, parece que sim.
_ Pois então. O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso sistema é muito bom. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o país?
_ Não sei.
_ Viu? O Senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos – por exemplo: como melhorar as anemotécnicas atualmente utilizadas, como obter mais rapidamente acendedores de Oeste (nossa maior carência), como construir instalações para porcos com mais de sete andares. Temos que melhorar o sistema, e não transformá-lo radicalmente, o Senhor entende? Ao Senhor, falta-lhe sensatez!
_ Realmente, eu estou perplexo! – respondeu o João.
_ Bem, agora que o Senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí, que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o Senhor imagina. Agora, entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua ideia – isso poderia trazer problemas para o Senhor no seu cargo. Não por mim, o Senhor entende. Eu falo isso para o seu próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o Senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é mesmo?
João Bom-Senso, coitado, não falou mais um “A”.
Sem despedir-se, meio atordoado, meio assustado com a sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu de fininho e ninguém mais nunca o viu.
Moral da estória: Por isso, é que até hoje, se diz, quando há reuniões de Planejamento, Mudança e Melhoramentos, que falta o Bom-Senso”.
Moral da história: devemos considerar a mudança de paradigmas, em todos os setores da vida, inclusive, o gerencial; gestores deveriam ter um posicionamento mais pró-ativo e menos burocrático, perante a criatividade e inovação das pessoas/profissionais; podemos melhorar sim, o que já temos, mas temos de pensar em inovar constantemente, produtos, processos, sistemas, serviços etc; a palavra-chave, hoje, deve ser: por que não? Pense nisso, caro leitor!