…E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades que vos
foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do
Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio Na Ordem Templária De Portugal)
Conta a lenda que dormia Uma
Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro
da estrada.
Ele tinha que, tentado, Vencer o
mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à
Princesa vem.
A Princesa Adormecida, Se espera,
dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado, Sem
saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para
ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino Ela
dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz
existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro Tudo
pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E vencendo estrada e muro, Chega
onde em sono ela mora,
E, inda
tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê
que ele mesmo era A Princesa que dormia.
Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42,
Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça este poema diz o próprio
autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a
este último:
A citação,
epígrafe ao meu poema “Eros e Psique”, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é
em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica
simplesmente — o que é fato — que me foi permitido folhear os Rituais dos três
primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se
não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não
devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In
VO/II.]