Quem te disse ao ouvido esse
segredo Que raras deusas têm escutado — Aquele amor cheio de crença e medo Que
é verdadeiro só se é segredado?… Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei
dizê-lo. Não foi um outro, porque não sabia. Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia? Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te
o sonhei? Foi só qualquer ciúme meu de ti Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que
levemente, A teu ouvido vagamente atento, Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou
boca, A teus ouvidos de eu sonhar-te disse A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice Com que o Olimpo se apouca.