Um soneto atribuído a Teresa de Ávila


Soneto anônimo / atribuído a Teresa de Ávila

[Tradução de Tradução de Manuel Bandeira, 1886-1968]

Não me move, meu Deus, para querer-te
o céu que me hás um dia prometido,
e nem me move o inferno tão temido
para deixar por isso de ofender-te.
Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
cravado numa cruz e escarnecido;
move-me ver teu corpo tão ferido;
movem-me o insulto e a vida que perdeste.
Move-me teu amor, de tal maneira,
enfim, que sem céu ainda te amara
e a não haver inferno te temera.
Nada me tens que dar porque te queira.
E se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que te quero te quisera.