Chove ? Nenhuma chuva cai…

Chove?  Nenhuma chuva cai… Então onde é que eu sinto um dia  Em que ruído da chuva atrai  A minha inútil agonia ? Onde é que chove, que eu o ouço ?  Onde é que é triste, ó claro céu ?  Eu quero sorrir-te, e não posso,  Ó céu azul, chamar-te meu… E o escuro […]

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Começa a ir ser dia

Fernando Pessoa Começa a ir ser dia,  O céu negro começa,  Numa menor negrura  Da sua noite escura,  A Ter uma cor fria  Onde a negrura cessa. Um negro azul-cinzento  Emerge vagamente  De onde o oriente dorme  Seu tardo sono informe,  E há um frio sem vento  Que se ouve e mal se sente. Mas […]

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Como inútil taça cheia

Como inútil taça cheia  Que ninguém ergue da mesa,  Transborda de dor alheia  Meu coração sem tristeza. Sonhos de mágoa figura  Só para Ter que sentir  E assim não tem a amargura  Que se temeu a fingir. Ficção num palco sem tábuas  Vestida de papel seda  Mima uma dança de mágoas  Para que nada suceda.

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Como uma voz de fonte que cessasse

Como uma voz de fonte que cessasse (E uns para os outros nossos vãos olhares Se admiraram), p’ra além dos meus palmares De sonho, a voz que do meu tédio nasce Parou… Apareceu já sem disfarce De música longínqua, asas nos ares, O mistério silente como os mares, Quando morreu o vento e a calma […]

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Conta a lenda que dormia

Conta a lenda que dormia  Uma Princesa encantada  A quem só despertaria  Um Infante, que viria  De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado,  Vencer o mal e o bem,  Antes que, já libertado,  Deixasse o caminho errado  Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida,  Se espera, dormindo espera.  Sonha em […]

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Contemplo o lago mudo

Contemplo o lago mudo  Que uma brisa estremece.  Não sei se penso em tudo  Ou se tudo me esquece. O lago nada me diz,  Não sinto a brisa mexê-lo  Não sei se sou feliz Nem se desejo sê-lo. Trêmulos vincos risonhos  Na água adormecida.  Por que fiz eu dos sonhos  A minha única vida? 

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Contemplo o que não vejo

Contemplo o que não vejo. É tarde, é quase escuro. E quanto em mim desejo Está parado ante o muro. Por cima o céu é grande; Sinto árvores além; Embora o vento abrande, Há folhas em vaivém. Tudo é do outro lado, No que há e no que penso. Nem há ramo agitado Que o […]

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Dá a surpresa de ser Dá a surpresa de ser. É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro. Seus seios altos parecem (Se ela tivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem Ter que haver madrugada. E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre […]

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Da minha idéia do mundo

Da minha idéia do mundo Caí…  Vácuo além do profundo,  Sem ter  Eu nem Ali… Vácuo sem si-próprio, caos  De ser pensado como ser…  Escada absoluta sem degraus…  Visão que se não pode ver… Além-Deus!  Além-Deus!  Negra calma…  Clarão do Desconhecido…  Tudo tem outro sentido, ó alma,  Mesmo o ter-um-sentido… 

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De onde é quase o horizonte

De onde é quase o horizonte Sobe uma névoa ligeira E afaga o pequeno monte Que pára na dianteira. E com braços de farrapo Quase invisíveis e frios, Faz cair seu ser de trapo Sobre os contornos macios. Um pouco de alto medito A névoa só com a ver. A vida? Não acredito. A crença? […]

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