Ditosos a quem acena

Fernando Pessoa MARINHA Ditosos a quem acena  Um lenço de despedida!  São felizes : têm pena…  Eu sofro sem pena a vida. Dôo-me até onde penso,  E a dor é já de pensar,  Órfão de um sonho suspenso  Pela maré a vazar… E sobe até mim, já farto  De improfícuas agonias,  No cais de onde […]

Consulte para mais informação
Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,  E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça… Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,  E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro … O esplendor do altar-mor é […]

Consulte para mais informação
Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo Que raras deusas têm escutado — Aquele amor cheio de crença e medo Que é verdadeiro só se é segredado?… Quem te disse tão cedo? Não fui eu, que te não ousei dizê-lo. Não foi um outro, porque não sabia. Mas quem roçou da testa teu cabelo E […]

Consulte para mais informação
Isto

Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está […]

Consulte para mais informação
Liberdade

Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa… Livros são papéis pintados com tinta. Estudar […]

Consulte para mais informação
Não digas nada!

Não digas nada!  Nem mesmo a verdade  Há tanta suavidade em nada se dizer  E tudo se entender —  Tudo metade  De sentir e de ver…  Não digas nada  Deixa esquecer  Talvez que amanhã  Em outra paisagem  Digas que foi vã  Toda essa viagem  Até onde quis  Ser quem me agrada…  Mas ali fui feliz […]

Consulte para mais informação
O Andaime

O tempo que eu hei sonhado Quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentida De um futuro imaginado! Aqui à beira do rio Sossego sem ter razão. Este seu correr vazio Figura, anônimo e frio, A vida vivida em vão. A ‘sp’rança que pouco alcança! Que desejo vale […]

Consulte para mais informação
O Maestro Sacode a Batuta

O maestro sacode a batuta, A lânguida e triste a música rompe … Lembra-me a minha infância, aquele dia Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado O deslizar dum cão verde, e do outro lado Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo […]

Consulte para mais informação
O que me dói não é

O que me dói não é O que há no coração Mas essas coisas lindas Que nunca existirão… São as formas sem forma Que passam sem que a dor As possa conhecer Ou as sonhar o amor. São como se a tristeza Fosse árvore e, uma a uma, Caíssem suas folhas Entre o vestígio e […]

Consulte para mais informação
Baladas de uma outra terra

Baladas de uma outra terra  Baladas de uma outra terra, aliadas Às saudades das fadas, amadas por gnomos idos, Retinem lívidas ainda aos ouvidos Dos luares das altas noites aladas… Pelos canais barcas erradas Segredam-se rumos descridos… E tresloucadas ou casadas com o som das baladas, As fadas são belas e as estrelas São delas… […]

Consulte para mais informação