Pobre velha música!

Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te, Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora. 

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Põe-me as mãos nos ombros…

Fernando  Pessoa Põe-me as mãos nos ombros…  Beija-me na fronte…  Minha vida é escombros,  A minha alma insonte. Eu não sei por quê,  Meu desde onde venho,  Sou o ser que vê,  E vê tudo estranho. Põe a tua mão  Sobre o meu cabelo…  Tudo é ilusão.  Sonhar é sabê-lo. 

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Sonho. Não sei quem sou.

Sonho. Não sei quem sou neste momento. Durmo sentindo-me. Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento, Minha alma não tem alma. Se existo é um erro eu o saber. Se acordo Parece que erro. Sinto que não sei. Nada quero nem tenho nem recordo. Não tenho ser nem lei. Lapso da consciência entre ilusões, […]

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Sorriso audível das folhas

Sorriso audível das folhas Não és mais que a brisa ali Se eu te olho e tu me olhas, Quem primeiro é que sorri? O primeiro a sorrir ri. Ri e olha de repente Para fins de não olhar Para onde nas folhas sente O som do vento a passar Tudo é vento e disfarçar. […]

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Tenho Tanto Sentimento

Fernando  Pessoa Tenho tanto sentimento Que é freqüente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal. Temos, todos que vivemos, Uma vida que é vivida E outra vida que é pensada, E a única vida que temos É essa que é dividida Entre a verdadeira […]

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Teus olhos entristecem.

Teus olhos entristecem Nem ouves o que digo. Dormem, sonham esquecem… Não me ouves, e prossigo.  Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez… Creio que nunca o ouviste De tão tua que és. Olhas-me de repente De um distante impreciso Com um olhar ausente. Começas um sorriso. Continuo a falar. Continuas ouvindo […]

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Tomamos a Vila depois de um Intenso Bombardeamento

A criança loura Jaz no meio da rua. Tem as tripas de fora E por uma corda sua Um comboio que ignora.  A cara está um feixe De sangue e de nada. Luz um pequeno peixe — Dos que bóiam nas banheiras — À beira da estrada. Cai sobre a estrada o escuro. Longe, ainda […]

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Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Não faz ruído senão com sossego. Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva Do que não sabe, o sentimento é cego. Chove. Meu ser (quem sou) renego… Tão calma é a chuva que se solta no ar (Nem parece […]

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Como a noite é longa! Como a noite é longa! Toda a noite é assim… Senta-te, ama, perto Do leito onde esperto. Vem p’r’ao pé de mim… Amei tanta coisa… Hoje nada existe. Aqui ao pé da cama Canta-me, minha ama, Uma canção triste. Era uma princesa Que amou… Já não sei… Como estou esquecido! […]

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Vaga, no azul amplo solta

Fernando Pessoa Vaga, no azul amplo solta, Vai uma nuvem errando. O meu passado não volta. Não é o que estou chorando. O que choro é diferente. Entra mais na alma da alma. Mas como, no céu sem gente, A nuvem flutua calma. E isto lembra uma tristeza E a lembrança é que entristece, Dou […]

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