Fernando Pessoa

Canção

Silfos ou gnomos tocam?… Roçam
nos pinheirais Sombras e bafos leves De ritmos musicais.
Ondulam como em voltas De
estradas não sei onde Ou como alguém que entre árvores Ora se mostra ou
esconde.
Forma longínqua e incerta Do que
eu nunca terei… Mal oiço e quase choro. Por que choro não sei.
Tão tênue melodia Que mal sei se
ela existe Ou se é só o crepúsculo, Os pinhais e eu estar triste.
Mas cessa, como uma brisa Esquece
a forma aos seus ais; E agora não há mais música Do que a dos pinheirais.

Brilha uma Voz na Noute …

Brilha uma voz na noute De dentro
de Fora ouvi-a… Ó Universo, eu sou-te… Oh, o horror da alegria Deste pavor,
do archote Se apagar, que me guia!
Cinzas de idéia e de nome Em mim,
e a voz: Ó mundo, Sermente em ti eu sou-me… Mero eco de mim, me inundo De
ondas de negro lume Em que pra Deus me afundo.