Arquivo pessoal  MAJU cuidando da LUA

Eu comprei o livro Saber
Cuidar
de Leonardo Boff a muitos anos, e em um dos projetos no HC levei meus livros pra lá. Mas alguém afoito em ler pegou e esqueceu de devolver… Espero que tenha aprendido sobre o cuidado com a leitura no livro alheio.
E eu pensando aqui para escrever sobre o “cuidado” neste blog; eu percebi que assim como o livro, meu descuido deixou o saber cuidar para bem longe. E eu sem livro e sem cuidado fui passando os anos.
Cuidados mínimos para sobrevivência. E sem vergonha admitir que aprendi na raça e tenho aprendido a driblar meus eus tentando os boicotes de sempre.
E assim li umas coisas por ai. e o melhor texto foi da autora Cintia Barreto
que coloco aqui em dois posts…
Vamos a reflexão:
Para isso, foram escolhidos dois tópicos do livro
pertinentes aos dias atuais: o cuidado e suas concretizações.
Nos dias de hoje, a iminência de uma 3ª Guerra Mundial faz-nos, cada vez mais,
refletir a respeito da postura do homem diante da globalização, uma vez que as
barreiras entre os povos ficaram mais estreitas e a comunicação, por outro
lado, mais ampla. Com isso, as diferenças culturais são postas em discussão e
comparadas, julgando-se ser esta ou aquela posição cultural a certa, ou melhor,
a ideal.
Não podemos esquecer que a história mundial é constituída por guerras e
intolerância e observa-se que quem tem muito impera e quem tem pouco morre: de
fome, de frio, de gases tóxicos, de câncer, de aids, de dívidas. Assim, é
preciso perceber a importância do cuidado na humanidade, pois, sem ele, a paz
distanciar-se-á de todos e tornar-se-á utopia para sempre.
Dado o exposto, o seguinte trabalho propõe uma reflexão de todos nós, cidadãos
do século XXI, para duas questões importantes: o que é cuidado e como
concretizá-lo atualmente.

A Filologia Da Palavra Cuidado

A palavra
cuidado apresenta várias derivações, contudo sempre terá a idéia de preocupação
e inquietação por alguém. A pessoa que tem cuidado, tem amor e preocupação por
algo ou por alguém. Do contrário, não há cuidado, há des-cuido.
É certo que cuidado possui duas significações básicas. A primeira, entendida
como desvelo, ou seja, atenção para com o outro. A segunda, entendida como
preocupação, pois a pessoa que cuida, preocupa-se e sente-se responsável pelo
outro.
Assim como Leonardo Boff, em Saber Cuidar, também Antoine de
Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, lembra-nos da importância do
cuidado a partir do ato de cativar. Ao se cativar alguém, ganha-se sua
simpatia, sua estima, seu querer bem. Em contrapartida, essa palavra dá origem
a outra, nada simpática: cativeiro, que significa prisão, escravidão, sofrimento. 
Dessa forma, faz-se mister re-ver e re-ler Saint-Exupéry:

“E foi então que apareceu a raposa:
– Bom dia – disse a raposa.
– Bom dia – respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu
nada.
– Eu estou aqui – disse a voz -, debaixo da macieira…
– Quem és tu? – perguntou o principezinho.
– Tu és bonita…
– Sou uma raposa – disse a raposa.
– Vem brincar comigo – propôs o principezinho. – Estou tão triste…
– Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou:
– Que quer dizer “cativar”?
(…)
– Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?
– É uma coisa muito esquecida – disse a raposa. – Significa “criar
laços”…
– Criar laços?
– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil garotos. Eu não tenho necessidade de ti. E tu não
tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a
cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do
outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo…
(…)
– A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens
não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas.
Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu
queres um amigo, cativa-me!
(…)
– Os homens esqueceram essa verdade – disse a raposa. – Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és
responsável pela rosa…
– Eu sou responsável pela minha rosa… – repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.”

É importante ressaltar que o cuidado, como
disse Boff, faz parte da vida do homem, uma vez que ele nunca deixará de amar e
de se preocupar com alguém. Será isso verdade hoje? Os homens amam e
preocupam-se com o mundo e com eles mesmos? Para respondermos esses
questionamentos, é preciso lançar um olhar crítico às relações interpessoais no
mundo.
Não podemos deixar de lembrar, antes de tudo, que alguns estudiosos derivam
cuidado do latim coera, isto é, cura, sendo usado para traduzir
relações de amor e de amizade que inspiram desvelo e preocupação com o objeto
de carinho. Então, para analisarmos se há cuidado-cura, atualmente, é preciso
entender todas as significações desse vocábulo: CUIDADO.
Assim, os questionamentos expostos serão respondidos na próxima parte deste
trabalho junto com as possíveis concretizações do cuidado.